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A mostrar mensagens de agosto, 2015

Comiseração (21)

A mão gélida da morte esteve aqui a estrangular-nos o pescoço todo este maldito Verão. O seu gelo arrepiante chega quando menos o esperamos e oprime-nos terrivelmente, guardando um ar tenebroso, o ar mais pesado do mundo nos pulmões, no lugar da alma e é esse ar que nos mantém vivos. Quando o ar da alma está poluído, dificilmente pode voltar a ser saudável, por isso este peito frágil não evita a tristeza do mundo, mas a alma não fica doente pelas vias respiratórias, a alma fica doente pelos olhos e pelos ouvidos Nadir Veld

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (15 de Agosto de 2015) + Comiseração (22)

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Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (15 de Agosto de 2015) Tenho muita pena de não ter estado a controlar o meu corpo quando ele se cruzou com este senhor em Cáceres, Espanha. Infelizmente, quem estava a capitanear os movimentos do meu corpo às 11:32 (hora a que foi tirada a foto) do dia de hoje era nada mais nada menos que o infame Nadir Veld e isso vê-se na imagem, tímida foto de um pedinte, tão tímida que os ângulos choram a mágoa dos olhos que vêem, mas não fazem por concretizar as suas visões por medos e por acanhamentos incompreensíveis. O que posso dizer? Era muito cedo, tinha acordado há menos de uma hora e numa altura tão inicial do dia não costumo estar apto para fazer certas tarefas...Vindos dos meus sonhos tenebrosos, alguns fantasmas assomam na minha alma e são eles que nela imperam pela manhã...Se eu tivesse nas minhas habituais e sãs faculdades ter-me-ia baixado na horizontal com o homem e tirava a foto, se não mais baixo, à altura dos seus olhos tristes qu

Comiseração (20)

Adio sempre aquilo que tenho de fazer com medo do insucesso da minha empreitada. Se falhar, um temor imenso invadir-me-á a alma com vazios e durante anos irei rever no palco da minha imaginação o filme do falhanço, repetindo-se até à loucura, por isso tomo uma atitude de preguiça e sigo sozinho nas vias da lassidão. Ainda giram à minha volta todos os sonhos frustrados da minha vida. Com os olhos desalentados persigo-os enquanto esvoaçam no ar, não os posso perder de vista, talvez ainda os consiga alcançar. Enquanto estiver viva a chama que os alimenta possa sempre tentar. Não partam sonhos meus, não, não, não! Deixo que a esperança banhe as vossas praias solarengas, ainda que seja só de tristeza feita essa luz que alumia o sonho. Quem fará tudo o que deixei por fazer senão o meu mais tenebroso inimigo? Nadir Veld

Comiseração (19)

É mesmo tristeza este sentimento de vácuo no peito? Não poderá ser parte do céu perto de se abrir para encher o espaço? É um vazio tão vasto que o céu teria de aumentar para nele poder ter lugar, para onde irá quando eu morrer? Acho que o sofrimento não morre com uma pessoa; a dor fica na Terra e forma fantasmas que se ocuparão de levar para outras paragens a tristeza antiga, que nunca desvanece na Terra. Deve haver um anjo de Deus, cuja ocupação é manter o equilíbrio da tristeza e da dor neste mundo desgraçado. E esse anjo tem feito um bom trabalho. Nadir Veld

Comiseração (18)

Já deixei de conseguir ouvir música. Há muito que sabia que este dia ia chegar, pois estava a tornar-se cada vez mais doloroso para mim ouvir canções, pois aquelas que eu gostava de escutar, despertavam em mim recordações dolorosas. Agora todas as canções me fazem lembrar da minha dor, do terror da minha existência, da humilhação que tem sido viver a vida neste corpo absurdo e mal construído por um Deus cruel. Eu já vivi todas as histórias que cantam esses artistas do mundo, já as vivi e já as sofri, não suporto mais ouvir falar delas. As rítmicas sonoridades, os acordes bem inventados, só acordam em mim um monstro tenebroso que enche de medo a minha alma e transporta demência por todas as minhas veias, regando de loucura este cérebro imparável, sempre pronto a construir ideias assustadoras e pesadelos para o corpo. A arte de cantar não oferece consolo a quem está à espera da morte na Primavera da vida. Nadir Veld

Les Temps du Loup

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Neste filme sinistro Haneke mostra-nos um grupo de homens e mulheres num cenário pós-apocalíptico à espera de um comboio que os venha salvar. Assim como o Nadir Veld, eles estão parados num limbo de pré-vida, numa ânsia de serem salvos, de serem levados da terra do terror para a planície dos rios abundantes, onde os víveres chegam para todas as pessoas que vivem numa comunhão pura de sorrisos transbordantes a cada encontro, a cada olhar. Contudo esse comboio não vem e o dia da felicidade não chega, pelo que as personagens vão caindo em pesadelos maiores e guerras entre elas, como se vê muitas vezes em filmes que se passam em situações limite como O Ensaio Sobre a Cegueira ou A Estrada . Desesperadas, as pessoas lutam umas contra as outras pela sua sobrevivência nas melhores condições, cegas pela fome que as impede de ver que se podiam ajudar em vez de se enganarem e de se torturarem para sempre. O Michael Haneke tem uma mente doente, muito doente. Acredito que ele se reveja na person

A última estrela

Quando a última estrela acaricia o dia Que inicia a era da hera megera Que trepa como fera, Pelo dorso da pantera E deixa bela a donzela Ao sabor da vela Depois da longa espera Desiludida, toda ela Se desvela em oiro tecido na janela E se revela dos teus sonhos a quimera

Gosto (XLVII) P

Gosto de construir campas, sepulcros e outros monumentos que sirvam de sepultura para pessoas que não existem, em lugares recônditos nas florestas e nas pradarias. Faço um monte de terra rectangular e construo uma cruz com paus atados com corda própria para o efeito ou com lianas e ervas, caso não se tenha a dita corda mas folhas secam e a cruz cai, deixando uma parte ridícula de si, um pau nu, espetado na terra, apontando estupidamente para o céu solitário há espera de uma trovoada. Quando a cruz cai toda a solenidade sai. Numa noite de puro delírio, eu e o Astoros roubámos seis lajes de branco mármore num armazém semi abandonado numa estrada de montanha que cruzávamos em busca do outro lado. Encontrámos um lugar digno, uma clareira acolhedora, banhada pelo prateado charme da lua cheia. Revolteamos a terra e empilhámo-la em seis montes. Colocámos as seis lajes nos montes. Lembro-me do som da pedra lisa a assentar naquela terra e de sentir na minha pele o contacto em forma de arrepios

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (23 de Agosto de 2015)

Acordei abandonado num Oceano de palavras que preciso de dizer. Elas estão de tal maneira desorganizadas que eu já nem consigo focar-me numas para começar a resolver-me, pois a minha vista abarca e lembra-se sempre de mais um elemento, que entra sempre em confronto com aquele que eu queria resolver e isso faz com que ambos se transformem em novas e extraordinárias palavras, outras formas, novos monstros de outros medos sempre adormecidos, ansiosos por serem acordados. O Nadir Veld fala cada vez mais nas cavernas obscuras do meu ser. O seu uivo alto ecoa pelos meus nervos e vibram as minhas peles com lamentos que não são meus. Há lugar para dores alheias no meu peito imenso, rasgo as minhas vestes e ofereço as minhas carnes a quem as quiser golpear, venham!, eu suporto tudo, chicoteiem estes ossos e deleitem-se com o sabor doce do meu sangue e das minhas lágrimas, açoitem-me todo o corpo e, mesmo assim jamais sereis capazes de chegar à réstia de esperança que eu tenho escondida lá bem n

Comiseração (18)

Depois de afagar a minha barba, dei pela minha mão a fechar-se gigantesca sobre o meu pescoço, começando um estrangulamento intenso para abafar as lamúrias de um coração dilacerado. Apesar do meu objectivo ser sufocar-me, consegui respirar tranquilamente por baixo daquela mão violenta, enquanto apertava mais e mais e a dor ineficaz se ia tornando mais perturbadora. Estive meia hora a fazer pressão com a mão para morrer, para nunca mais sentir, mas não consegui nada com isso, a não ser uma marca vermelha que não vai desaparecer durante dias. Pode ser que o meu decapitador use essas linhas como referência. Oxalá. Nadir Veld

Não Gosto (XXXVI) P

Não gosto de estar a a andar na rua tranquilo e levar com uma teia de aranha na cara. É uma sensação muito irritante de frio e cócegas e eu sinto-me metaforicamente enredado numa teia que me oprime e conduz pelos extensos caminhos da infelicidade. É daqueles pequenos acontecimentos que me irritam e me deixam a sentir mal, ainda que não parecessem, à partida, ser capazes de me deixar arrasado.

Mais depressa os rios secam do que o mar se enche

Seriam só mentiras bem planeadas Essas promessas em ouro não realizadas? Esses sonhos implantados na imaginação Cuja recordação me ferra o coração São golpes profundos de violência mágica E matam esperança criada numa mente nostálgica, Tenho dolência trágica na alma agoniada E a consciência de pesadelos sitiada Um medo que assombra o peito e tudo preenche, Mais depressa os rios secam do que o mar se enche Nadir Veld

Não Gosto (XXXV) P

Não gosto de ficar ao pé de uma porta que tentei, sem sucesso, transpor, forçando. Dentro dela surgirão irados, vultos acusatórios, sentindo que a sua privacidade foi violada e buscarão para o meu acto justificações que podem não existir.

Comiseração (17)

Chamo rios de fel aos profundos sulcos que me cavam a cara, pois as rugas nasceram-me da apreensão e das mágoas e nelas correram as águas de mares de lágrimas. O meu sofrimento enterrou-se-me tanto no coração e na alma que tenho o rosto de velho aos 25 anos. Nadir Veld

Gosto (XLVI)

Gosto de enganar os turistas que me irritam, quando eles me pedem indicações . Há um certo tipo de turistas extremamente irritante e cujo comportamento e atitudes me deixam com os nervos em franja, principalmente nas grandes cidades em que eles aparecem vindos de todos os lados para perturbar o meu sossego com os seus flashs  e a sua excessiva contemplação do irrelevante. Então, quando essas pessoas me pedem indicações, não tenho problema nenhum em mandá-las para o sítio oposto daquele que me perguntaram e faço-o com uma segurança extraordinária, indicando detalhes correctos no caminho que não os leva aonde eles querem chegar. Gosto especialmente de enganar os turistas alemães.

Não Gosto (XXXIV)

Não gosto de pedir indicações para um lugar a um transeunte e verificar que esse transeunte, depois de me ter dado as indicações, segue o seu caminho na mesma direcção que eu, que sigo as suas indicações. Instala-se um pesado sentimento de constrangimento quando isso acontece, porque eu e aquela pessoa já nos conhecemos, já estivemos a falar e agora seguimos para um lugar semelhante completamente silenciosos, evitando sequer olhar um para o outro, quando podíamos ir a falar alegremente, fazendo companhia um ao outro na solidão do mundo.

Comiseração

A dar os últimos retoques no poema Almas Mortas , escrevi a frase que o concluí "e jurei ao lado negro servidão". Seleccionei o texto para ver as palavras que tinha e eram nem mais nem menos que 666. 666 666.666. 666.666.666.666 a besta chegou 666 esta é a era de um novo apocalipse mental. O Diabo sempre esteve em mim, finalmente a confirmação chegou. Todo o meu corpo começou a tremer em convulsões incontroláveis e eu saltei pela casa desgovernado até bater com a cabeça no tecto e desmaiar. Agora acordei com a cabeça cheia de sangue e decidi escrever isto depois de me auto suturar. Mais ninguém me suturaria. Nesta vida há coincidências que nada pode explicar, histórias inimagináveis que só a vivência nos pode proporcionar. Depois disto me ter acontecido, jamais poderei ser o mesmo. http://zenitsaphyr.blogspot.pt/2015/07/o-pranto.html  - link para a versão do poema com 666 palavras. Nadir Veld

Quadra / Profecia atmosférica / Del.

Quanta saudade é sangue no dealbar dos dias Quanto do teu olhar são lágrimas no meu olhar? Por quantas sepulturas no mar trocámos as rectas vias Por quantos silêncios sepulcrais o guardaremos mais?

Gosto (XLV)

Quando estou na presença de pessoas desconhecidas, às vezes, gosto de falar línguas estranhas que eu próprio invento enquanto falo para parecer exótico e interessante às restantes pessoas. Certo dia, estava com um amigo meu num transporte público a conversar dessa forma, cada um de nós dizendo coisas sem qualquer sentido como "Vasdanar parki lanuga laner?", ao que o outro respondia com segurança "Lanuga laner gazal balal aal oniunarta", sempre improvisando tendo em conta o que o outro dizia e respondendo conforme, quando um homem nos interrompeu, para nos perguntar, curioso, que língua estávamos nós a falar. Olhei para o meu amigo com um sorriso e respondi ao senhor, em inglês, que estávamos a falar Devionese e que éramos da Devonia, explicando-lhe que se tratava de uma pequena ilha do Pacífico. O senhor fez um ar de surpreendido desconhecimento e eu ri-me muito depois, ao imaginá-lo em casa a procurar a nação Devoniana nas suas enciclopédias e nos seus Atlas.

Às vezes faltam-nos palavras

(Ás veces fáltannos palabras e ás veces sóbrannos Ás veces fáltanos o tempo de dicilas e ás veces pásanos o tempo de calalas Ás veces precisamos o que xa temos e ás veces desbotamos o alleo como se fora noso Ás veces mantimos inxustamente e ás veces facemos da lei unha verdade fedorenta) Às vezes faltam-nos palavras e às vezes sobram-nos Às vezes falta-nos tempo para as dizer e às vezes passa o tempo de as calar Às vezes precisamos do já temos e às vezes dispomos do alheio como se fosse nosso Às vezes mentimos injustamente e às vezes fazemos da lei uma verdade fedorenta Baldo Ramos