Zenit Saphyr Versus Doutor Targédia (2ª Parte)

Sei que os meus sonhos foram perturbados pelo ruído de um automóvel avançando à chuva. Isso não me acordou e quando o fiz o chão não estava molhado, por isso não soube o que pensar. O sol dourado servia de candeia para o abismo. Vi como era estranha aquela monatanha esculpida e olhei o outro lado, a pouco mais de quatro metros. Em certos lugares era fácil saltar para o outro lado, por estar menos alto, mas os lados da montanha iam competindo nesse aspecto, substituindo-se um ao outro como o mais alto. Fotografei toda aquela beleza e usei a lente para ver se a estrada tinha marcas de carros, mas fui incapaz de chegar a uma conclusão segura. A densidade das árvores não me permitia divisar o horizonte distante, por isso avancei sem saber em direcção a quê. A meio da tarde cheguei a um lugar onde havia menos árvores. Espreitando entre elas vi uma enorme casa verde com motivos do século XVIII, grandes janelas antigas e uma altura de mais de 20 metros, escondida atrás das árvores. Aproximei-me para procurar a parte de baixo para procurar entrar mas fui surpreendido por um grande percepício. Percebi que o caminho lá em baixo, esculpido na montanha, acabava ali porque do outro lado também se abria um precepício. Espreitei lá para baixo e vi que a casa tinha afinal cerca de 70 metros de altura, um arranha-céus de tempos passados escondido em plena Floresta Negra. Apaixonado pelo ambiente tirei dezenas de fotografias à casa. Decidi pernoitar naquele lugar mágico, mas escondi-me de ser possivelmente visto das janelas. Queria saber se a casa tinha actividade, se alguém habitava. Tendo em conta o seu tamanho desmesurado calculei que a casa pudesse, facilmente, albergar meio milhar de pessoas. Ansiei pela noite e quando a estrela da tarde subiu no céu com o seu pálido brilho anunciando a noite redobrei a minha atenção e preparei a câmara, não só para fotografar, mas também para, através dela, conseguir vislumbrar actividades no interior. Antes de me embranhar no olhar da câmara contemplei mais uma vez a perspectiva que a casa proporcionava. De onde me encontrava podia apenas ver os vinte andares superiores de um vasto prédio que se estendia, em largura, por mais de quarenta metros, como um grande império dominando aquela zona do terreno, em perfeita harmonia com a natureza. Através das lentes da câmara não consegui vislumbrar nada através das janelas do lugar onde me encontrava e amaldiçoei-me por não tentar feito de dia, quando estava a tirar as fotografias...Agora nada se via a não ser um pálido brilho reflectido do lado exterior...Fiquei atento a luzes ao barulhos, primeiro escondido num buraco com uma pedra por cima, depois temeroso, no precepício que me separava da enigmática casa. A lua ainda não aparecera e sentia-me confiante. Fiquei ali sentado duas horas pacientemente escutando os sons da noite. Morcegos na distância e roncos de aves adormecidas. Depois, pode-se dizer que a minha aventura começou.

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