Cruzeiro Voador

Quando numa tarde soalheira igual a tantas outras um avião não identificado cruzou os céus de uma grande potência mundial, poucos estariam conscientes que os actos daqueles que o divisaram através de radares poderiam ter consequências desastrosas para o destino da Raça Humana e, de uma forma quase geral, para a vida na Terra. Jonalbum foi o primeiro na sala de controlo a aperceber-se de uma presença estranha, que avançava destemidamente através das nuvens em direcção a sul, onde se encontrava a capital do país. A sua reacção foi influenciada pelo clima de tensão que se sentia entre as duas maiores potências mundiais. A ameaça de um ataque pairava há muito tempo. As pessoas viviam no medo e muitos achavam que o pequeno, mas poderoso país, que sempre fora inimigo da pátria de Jonalbum devia há muito ter sido destruído. Um pequeno ataque bastaria para deixar o país em chamas e sem habitantes. Aquela cultura cujas tradições se começavam a espalhar lentamente pelo mundo poderia ser exterminada em poucas horas, mas isso levaria a graves condenações dos Organismos Mundiais e a uma censura generalizada a nível mundial, para além do boato que corria de que essa potência teria uma base militar algures numa ilha do Oceano, onde guardavam armas suficientes para explodir com o mundo várias vezes. Jonalbum tentou, em vão, comunicar com o avião. Comunicou com um avião que se localizava nas proximidades aéreas do objecto voador desconhecido. O piloto estava em pânico, pois tinha visto um gigantesco avião, que mais parecia um cruzeiro voador e depois de se cruzarem os indicadores do cockpit tiveram uma reacção louca e começaram a andar ao contrário, depois falou de um grande peso que se parecia ter abatido sobre a parte de cima do avião e o combustível começou a ser gasto a uma velocidade cem vezes maior. Cinco minutos depois, Jonalbum perdeu o contacto com o piloto e esse avião desapareceu do radar com um clarão, um avanço tecnológico que permitia perceber que o avião se tinha despenhado. Nesse momento Jonalbum levantou-se de um salto, alarmado e correu para o gabinete do chefe para a comunicação exterior, a quem deviam ser comunicados todos os acidentes e anormalidades. Depois de lhe contar o sucedido ele aproximou-se do painel de controlo e viu o Cruzeiro Voador aproximando-se ameaçadoramente da capital. Houve uma pequena reunião em volta desse monitor e dois minutos de conversa bastaram para se decidirem a comunicar às altas patentes do exército a invasão do espaço aéreo. O General Zerstorng pareceu receber a notícia com felicidade e ordenou a quatro caças que saíssem no encalço desse monstro aéreo que prometia destruir a capital da nação. Pendargon, Volstum, Dariux e Rifte saíram determinados a arrasar, a destruir, a matar aquilo que lhes tinham ordenado. Oh, e nessa tarde eles saíram determinados, mas acabaram por ficar condenados, quando às oito horas da noite, enquanto o sol acabava a sua marcha pelo céu da nação e mergulhava agora com aquele brilho dourado-alaranjado atrás da montanhas e as nuvens adquiriam uma tonalidade divina abençoando a estrela da tarde que começava a derramar o seu brilho pálido no céu que escurecia, avistaram o gigantesco aparelho voador ele pareceu-lhes algo nunca antes visto, como se fosse uma casa de cinco andares voadora, com estranhas luzes néon de várias cores piscando. Pendargon, Volstum, Dariux e Rifte comunicaram entre eles e decidiram fazer aquilo que lhes tinha sido ordenado, ainda que aquele avião não se parecesse com nada do que tinham visto voando pelos céus da Terra. Acharam que se devia tratar de uma maquinaria engendrada pelo maquiavélico líder da nação inimiga, porque esse monstro seria capaz de tudo, ainda que a sua monstruosidade fosse relativa de lugar para lugar. Dispararam durante cinco minutos até causar danos visíveis. Por fim, o Cruzeiro Voador acabou por se despenhar no lago Vertikara e afundou-se, escondendo para sempre o seu mistério. Foi com grande surpresa que Jonalbum, na sala de controlo, viu a mancha que representava o objecto voador invasor parar, sobre o rio, interrompendo a sua marcha aérea, como se estivesse a pairar ou a levitar, completamente imóvel no ar. Entretanto os caças partiram, voando em formatura. Empalideceu, pensando que o inimigo não tinha sido destruído, mas a sua inquietação durou apenas três minutos, porque nesse momento a mancha tornou-se num intenso feixe luminoso violeta que quase o cegou e depois desapareceu. Embora tenha achado estranha aquela forma do objecto voador desaparecer do radar nada disse aos seus superiores sobre o feixe luminoso.
                Na Sala de Guerra, o Supremo Comandante ordenou o ataque à potência inimiga. Finalmente a nação de Jonalbum tinha uma razão para destruir o país cuja ideologia tanto detestava. Quinze bombas atómicas chegaram para devastar a zona geográfica onde aquele país e aquela tão odiada cultura tinham florescido. Em todo o Mundo houve uma condenação generalizada do “acto impensado” e da “imposição ideológica pela força”. Os Importantes Organismos Mundiais multaram essa nação numa avultada quantia de dinheiro que só não teve de ser paga porque o boato que corria era verdadeiro. A nação destruída tinha mesmo uma base militar cheia de força, cujo armamento bombardeou durante quatro dias a grande nação do pobre Jonalbum, que acabou por sucumbir quando corria para um abrigo.

                Na última semana as duas grandes potências mundiais foram destruídas. Era nesses países que se encontravam os melhores telescópios, por isso ninguém no Planeta se apercebeu do ajuntamento de Cruzeiros Voadores que se deu perto do planeta mais próximo. Depois da grande tragédia as pessoas começavam a consciencializar-se de que apenas o amor fazia sentido enquanto filosofia. O Planeta estava a melhorar e a reagir bem ao desaparecimento das duas grandes potências, as pessoas sentiram a harmonia e, abraçadas dançaram em volta da grande fogueira que nos foi revelada nos sonhos antigos. Os Cruzeiros Voadores aproximaram-se da terra. Aquele que foi abatido e que agora jaz no fundo do lago Vertikara era o de reconhecimento, aquele que vinha em paz à Terra, para conhecer os terráqueos e mostrar que afinal a Vida naquele planeta não era um Erro. Nesse dia, quando os Cruzeiros Voadores apontaram as suas armas à Terra, ficou provado que não só há mais vida para lá de um planeta como os sentimentos podem ser comuns entre eles. A sua vingança irada caiu sobre o Planeta quando os seus raios unificados, disparados ao mesmo tempo, apagaram a Terra e a Lua perdeu a sua força gravitacional, saindo disparada para o infinito. 

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