Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (17ª Parte)

O Homem Orquestra, ao avançar à minha frente, entrando na Primeira Serra Depois da Pradaria, desafinou e começou a tocar à toa músicas assustadoras, mostrando pela primeira vez ter sentimentos próprios. Olhei-o preocupado. A vasta pradaria atrás de nós, antes povoadoa com vacas estava agora vazia. Ele fora uma grande ajuda nos tempos messiânicos enquanto salvava vacas. Embalava a manhã embrulhando-a num som próprio, como que a criar sentimentos. O Homem Orquestra era o maior dos artistas. O Artista do momento que escolhe o comportamento adequado através de sons. Durante um dia ele zumbiu como um zangão, recriando esse som assustador sem aquilo que o tornava assustador. Foi fantástico converter vacas em anjos ouvindo os sons que ele escolhia. O seu medo deixou-me temeroso e fez-me encarar a entrada na montanha como algo duvidoso. Podia voltar para a Praia, mas ia ter que andar muitos anos. A Montanha era a entrada num novo mundo, depois da melancolia das pradarias. Avancei e o Homem Orquestra seguiu-me, acalmando a tensão com o som do mar, um regresso virtual ao Oceano de onde a minha nova alma poética surgira. Pensei na História do Homem Orquestra. Estava destinado para mim ali? Viu-me surgir no Oceano no dorso de um golfinho e amou-me logo ali?...Seguia-me fielmente e isso reconfortava-me. Ao avnçarmos pela serra percebi a origem do seu temor. Durante certos momentos a Terra tremia como se afectada por uma explosão distante. Na noite em que disso me apercebi as grutas erguiam-se sombrias sob a lua cheia e um urso pingando sangue passou por nós chorando. Entramos na gruta de que ele saira e vimos a carcaça de uma ovelha. Passei a noite nessa gruta embalando por uma música mórbida do Homem Orquestra e inebriado pelo intenso cheiro do sangue.

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